Ponto de situação e outras estórias

• Já há alguns dias que não me peso. Penso que tenho mantido, mais centena de grama, menos centena..
• Tenho suado como uma perdida com o novo plano de treino do ginásio que privilegia o cardio: bike, passadeira (corrida), elíptica, stepper + abs e musculação. A minha resistência está espectacular. O meu volume está gradualmente a ir-se! E é isso que faz falta porque é o que tenho em excesso.
  
• Hoje voltei às aulas da academia da parte da tarde (desde a última Quarta que não ía) e notei muita diferença no meu corpo olhando-me nos espelhos: pernas delgadas e torneadas, barriga quase inexistente (!), braços musculados... os treinos têm corrido cinco estrelas, sinto-me mais enérgica, auto-confiante. Porém, nos últimos dias, também tenho sentido mais insaciedade... talvez porque queime 600kcal em média em cada manhã....
• Tenho, sim, comido demais. Pelo menos, mais do que vinha comendo nos últimos meses. Não o suficiente para voltar a engordar porque o desporto leva tudo, mas também se calhar demasiadamente para perder peso na balança. O meu foco actual vai para esse aspecto: a alimentação.

Porque é-me difícil, de momento, disciplinar a alimentação?
Ter mamãe cozinhando para nós é fofo, mas contraproducente...

• Hoje mamãe fez pasteis de nata.... (dá para acreditar????)
• Ao almoço, pataniscas de bacalhau...
• No outro dia colocou na mesa batata frita ligh.. (light? 'batata frita light' soa-me a desculpa para enfardar esta perdição com menos peso na consciência)
• E compra bolachas digestivas deliciosas, pãozinho de toda a qualidade e feitio (tenho que eu comprar o meu integralzinho e/ou com sementes).
• Mas também faz sempre sopinha, saldinhas realmente light deliciosas e preocupa-se muito com a nossa alimentação.

A minha mãe...
Foi ela quem começou em casa a prática de uma alimentação mais saudável, numa época em que eu vivia com a cabeça enterrada na areia e pesava mais 24kg. Começou com a introdução de saladas e grelhados nas refeições, reforço de sopa, corte nos fritos...
Hoje sou eu que puxo por ela, porque a mãe pertence a outra geração, de mulheres que aprenderam a cozinhar bem e fartamente, com refugados, temperos gordos e fortes, muitos estofados, fritos e assados.
Hoje puxo por ela para..

a) reduzir na quantidade de comida que faz
b) cortar definitivamente nos fritos
c) comprar carne vermelha o menos possível
d) fazer os grelhados sem margarina (pq o meu pai não gosta da textura e sabor seco dos grelhados)
e) cortar no sal de que ela ainda abusa
f) não fazer tão frequntemente doces como compotas, bolos, pudins, pasteis de nata...
g) nem comprar tantas bolachas, bolinhos, etc que ela faz como sinal de amor para nos adocicar a boca e o espírito
h) experimentar alimentos novos como vegetais, a prepará-los de formas diferentes e originais, a misturá-los, a tempera-los de forma saborosa e surpreendente.

E perguntam "se acho que sei assim tanto o que é bom e faz bem à mesa, porque é que não cozinho eu em casa?" Porque não me deixam: quem manda na cozinha é a minha mãe, dona da casa :D E eu respeito. Também não tenho pachorra para cozi har todos os dias, duas vezes por dia...

A minha mãe faz hidroginástica e natação. Foi a ela que sai na estrutura larga do esqueleto. Durante anos quase não teve barriga, tem anca estreita, mas ombros e peitos largos o que a faz parecer falsamente gorda. Não tem rigorosamente celulite nenhuma nas pernas (verdade!) e tem uma bunda de fazer inveja a muitas meninas de 20 anos. Perguntei-me muitos anos proque não sai nisso a ela... Na maior parte da minha vida adulta fui bem mais gorda que ela... Uma filha vestir tamanhos maiores que uma mãe... era algo que me deitava muito abaixo, que me envergonhava. Mas o que me envergonhava mais é que eu envergonhava a minha mãe, por exemplo, face a amigas dela de infância, que ela não via há anos, também elas com filhas, lindas e magras; quando viam a filha gorda que a minha mãe tinha olhavam-na com uma expressão acusatória, tipo "ao que deixaste a tua filha chegar!".
Uma pessoa já lida mal com o próprio fracasso, mas para mim era mais difícil lidar com o estigma de ver a minha mãr apontada como fracasso por minha causa. Ela não merecia, nem nunca mereceu, ser apontada como fracassada por ter uma filha gorda. A culpa, mesmo quando eu não tinha consciência disso, sempre foi minha.